Quero colocar, meu filho, a minha dúvida. Quero te dizer
que não sou perfeito, embora tenha pretendido muitas vezes -
principalmente diante de você - ser o senhor de todas as respostas.
Quero esclarecer, sim, que na verdade, muitas vezes desisti e quis virar
as costas para o amor, para o prazer, para a felicidade, com medo do
revés. Mas, ainda assim, de alguma forma, renasci. Porque sou humano. E
somos feitos deste jeito, de esperança e dor. De fracasso e vontade de
acertar. De uma grande luz e força que de repente despenca numa
incompreensível confusão - para de novo tentar e se encontrar logo
adiante. E se de algum jeito, meu filho, eu não for capaz de vivenciar
esta verdade com clareza diante de você, não me julgue pela minha força e
fraqueza aparentes. Não sou teu único parâmetro, embora o primeiro. E
tudo que eu quero é que, se não for da minha capacidade, que seja da
própria vida que você receba esta melhor herança: a de compreender e
viver que somos dúvida. Humanos. E que a duvida é o que nos permite
questionar e engrandecer e não deve, jamais, servir de desculpa para o
não-ser.
Virgínia
Cavalcanti